Escrito por Nilson Fidelis
É comum a todas as pessoas serem abordadas por outras. Os motivos que levam a estas abordagens são inúmeros. Alguns são muito interessantes.
Recentemente, chegávamos à base de trabalho, quando uma pessoa, em visível situação de extrema carência, pediu uma ajuda para tomar um café da manhã. Peguei uma nota de R$10,00 e perguntei: “Seja sincero, vai usar no café ou numa dose de goró?”
Ele respondeu: “Vou falar a verdade. Primeiro uma pinguinha, se sobrar tomo um café!” Respondi: “Tudo bem, mas a verdade nem existe!” Ficou me olhando com cara de desconfiança. Mas estava tão feliz que quis me dar um abraço. Depois de abraçado, subimos a escada do prédio para o escritório e fomos trabalhar.
No dia seguinte, cumpríamos nossa rotina quando, de repente, o mesmo cidadão, agora numa parada de ônibus, sentado sobre o banco. Ao nos ver fez o trivial pedido a respeito do café.
Me aproximei dele e disse: “Cara, ontem mesmo te dei R$10,00 para tomar café! Não posso te dar dinheiro todo dia!”
Me encarou por um instante, como se quisesse se lembrar de algo e disparou em seguida: “Ah, você falou que a verdade não existe!”. Confirmei: “Sim, não existe!”.
E ele: “Mas você acredita que existe um fim?” Respondi que não. “Como não?” – Já meio irritado – “… Se existe um começo, tem que ter um fim!”.
Peguei um pedaço de papel, solto sobre a calçada, usei o fundo de um copo plastificado que se achava sobre o banco e desenhei um círculo perfeito.
Entreguei o papel ao mendicante dizendo: “Preste atenção neste círculo e me diga, onde é o começo e onde é o fim? Se você conseguir descobrir, eu acredito na verdade!”.
Meio admirado e confuso, olhava com insistência para mim e para o círculo sobre o papel. Finalmente disse: “Acabou o papo!” E foi embora.