Rascunho do Tai

Uma miscelânea em desenvolvimento

The Chasm.

3 de abril de 2017 · 25 years and 2 months

Um pastor fazia uma pregação sobre perseverança. Era manhã de sábado, mas não uma qualquer. Bruce tinha subido um degrau naqueles últimos dias. Dado um salto. Mas voltemos à pregação.

O homem, que por ironia ou não já não era mais pastor, encorajava as pessoas à não esmorecerem. E como metáfora, apresentou a história dos primeiros alpinistas que chegaram ao topo do Monte Everest.

“O corpo humano”, dizia o pregador, “sofre uma série de efeitos por conta da altitude. Desde náuseas e insônia, nos primeiros 3mil metros, passando pelo congelamento da garganta aos 6mil, até alucinações e taquicardia aos 8mil metros, quando mostra que definitivamente é hora de descer”. Seu ponto era que assim como as escaladas, a vida tinha estágios e oportunidades para descer, mas que as dores valeriam a pena quando o topo fosse alcançado, a vista apreciada e – após a descida – compartilhada com outros.

Bruce gostou da abordagem do homem. “Estágios… Sim. Estágios.” pensou. Tinha acabado de alcançar os primeiros metros do seu Everest. E se sentia assim, satisfeito o bastante para se presentear com uma noite de descanso em uma barraca fria, mas ambicioso o suficiente para começar a planejar a próxima etapa da subida.

Foi para casa caminhando e claro, discutindo consigo. Durante o percurso deu nota A- para o sermão, justificando (sim, para ele mesmo) que faltava algo na metáfora que a tornaria completa: a travessia do abismo.

Na escalada sempre há a opção de parar, descer… tentar depois. No abismo não. Ele é binário: alguém simplesmente não pode “quase atravessar o abismo”. O abismo é o desconhecido. Atravessá-lo requere mais do que vontade, é preciso fé.

E na metáfora de Bruce, pequenos abismos separavam quem chegava ou não ao topo. Lembrava daqueles personagens de desenhos, dos grandes saltos, o esforço extremo para se agarrar na outra extremidade e a merecida conquista do topo. “Ahh! O topo…” pensava, “lá onde as coisas simplesmente brilham. Fluidez. Plenitude!”.

Bruce admirava tanto a travessia quanto a ideia de alcançar o topo. E dando os méritos devidos ao orador, achava a ideia da partilha um fechamento perfeito.

“O abismo”, pensou Bruce pela última vez antes de chegar em casa, satisfeito. Ele ainda mal enxergava o topo, mas vislumbrava o abismo e estava ansioso para atravessá-lo.

Deixe uma resposta Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Author Picture Tainan Fidelis

  • Being ourselves and learning how to make the future.
  • Starter of Mobieve 🇧🇷
  • Twitter
  • ·
  • Instagram
  • ·
  • Linkedin

Posts recentes

  • Quotes.
  • Quotes.
  • Parábola do Círculo
  • Quotes.
  • Quotes.

Recortes

  • Artigos e Crônicas (50)
  • Diversos (15)
  • Fotos (8)
  • Histórias de Bruce (8)
  • Músicas (13)
  • Poemas (11)
  • Quotes (100)
  • Vídeos (9)

Rascunho do Tai · Criando com ❤️ desde 1992 🙋🏽‍♂️