Rascunho do Tai

Pandemia. (Parte 1)

Estamos em 2020 no meio de uma crise global por causa do Coronavirus (o Covid-19).
O vírus foi detectado pela primeira vez em humanos há 4 meses na China e, de lá, se espalhou por todo o mundo. Até o momento atual a doença matou 11 mil pessoas. Há três dias, a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que “desde a Segunda Guerra Mundial não houve um desafio […] que dependesse tanto da nossa ação conjunta e solidária”. Visto o que tem acontecido em todas as economias do globo, o desafio é compartilhado.
Crises como essa, os Cisnes Negros, são tão inesperadas e aleatórias que seus efeitos parecem ser imprevisíveis. Gostei, porém, de uma abordagem que li recentemente. O autor dizia que as crises, na verdade, aceleram as tendências e antecipam o futuro. Se esse está sendo o caso, pelas decisões que estão sendo tomadas e a reação das pessoas em relação a elas, nosso futuro imediato não é nada animador. Mas falemos sobre isso mais à frente.
Vejo que a grande validação positiva dessa crise tem sido a eficiência da disseminação da informação. Sabemos o que está acontecendo em todos os lugares em tempo real. Se nosso planeta é um sistema, nossa eficiência sensorial está cada vez melhor, se comparado ao passado recente.
Leve sua mente para o século passado. O ano era 1918 e o país eram os Estados Unidos. No estado do Kansas foi observado o primeiro caso da Gripe Espanhola. Imagine, em plena Primeira Guerra Mundial, quanto demorou para que a existência da Gripe Espanhola fosse conhecida nos 7 continentes. Dias, meses… anos? A pandemia duraria 3 anos e atingiria 1 em cada 3 pessoas no mundo, matando 50 milhões de pessoas.
Por si só, essa habilidade sensorial global é uma conquista notável e grandiosa. Dados e informações de “entrada” instantâneos são o primeiro passo para que possamos ser mais inteligentes como planeta. Eles são a fonte para entender os eventos, escolher as melhores decisões e então, agir em conjunto, de maneira harmônica e sistêmica.
O ponto é que hoje somos muito bons em compartilhar informações, quaisquer que sejam, em tempo recorde. Estamos conectados e bem preparados para sentir. Na minha visão, ainda temos que melhorar – e muito – como planeta em relação à tomada de decisões e a coordenação das ações.
Há dois dias um escritor conservador chamado Guilherme Fiuza tweetou a seguinte frase: “O mundo não está combatendo uma epidemia de gripe. Está se escondendo em casa de uma epidemia de gripe […]. Está fugindo do enfrentamento inteligente”. Isso me levou à uma reflexão.
Fiquei pensando em qual seria a reação de uma população com um baixo nível de inteligência, por exemplo macacos, em relação à uma ameaça desconhecida. Eu acho que eles teriam muito medo. Creio que se fechariam em si mesmos, induzindo que os diferentes são desconhecidos e, portanto, parte da ameaça. Creio que parariam as atividades normais e se esconderiam em ambientes seguros. Creio que seguiriam um indivíduo que tomasse qualquer decisão que, pelo menos aparentemente, parecesse aumentar a proteção de todos. Creio que ficariam olhando pelas frestas, esperando a ameaça passar.
Na minha análise essa é a postura que estamos desempenhando como sociedade, em suas devidas proporções, no ano de 2020. Estamos vendo os eventos (ou pelo menos os efeitos deles) de maneira cristalina, mas pensando de maneira limitada e agindo de maneira descoordenada.
Isso têm me incomodado bastante e me causado tristeza. Os líderes estão orgulhosos de suas decisões unilaterais e restritivas. As pessoas estão orgulhosas de seus líderes e satisfeitas em se comportarem como rebanho, protegidas e amedrontadas em casa. Nossa defesa está sendo a proibição de ação.
Da falta de liberdade e da concentração de poder
Os líderes, agora mais poderosos sobre o rebanho e agindo como semideuses, decidem quem pode andar, trabalhar e o que se pode fazer; logo mais decidirão quem deve sobreviver e, após a crise, quem deverá ser recompensado ou ajudado obrigatoriamente por todos os outros na recuperação. Serão enaltecidos por seus esforços na “remontada” da sociedade, que estará em um estado resultante de suas próprias decisões autocráticas.
Da falta de coordenação e limitação de pensamento
Não temos seguido nenhum padrão de pensamento ou de ação. Os vários líderes do sistema sobrepõem decisões antagônicas parecendo usar do momento para enaltecer o próprio ego ou própria consciência. Várias decisões são limitadas, isoladas, egoístas e, quando não consideram o escopo mais geral, burras.
Da falta de visão holística
Alguns líderes tomam decisões pertinentes quanto à crise em questão (evitar mortes) porém não consideram, na escolha da solução, a saúde da estrutura do sistema (sobreviventes, economia, empregos, vida cotidiana). Outros parecem achar que as soluções se restringem às linhas imaginárias e representativas desenhadas em mapas que aprendemos a chamar de cidades, estados e países.
Entendo que os líderes, seja por benevolência ou vaidade, desejam lidar bem com as crises e evitar que seus povos morram. Nós, como humanos, queremos sobreviver. Acredite, sobreviveremos.

Mas se não utilizarmos todo o conhecimento e habilidades acumulados para entender e agir de maneira inteligente nos momentos em que mais precisamos, estamos fadados a caminhar para um futuro menos brilhante do que sonhamos e, pessoalmente, do que acredito que somos capazes de “entregar” para os nossos filhos e netos.