Rascunho do Tai

Quem vai me proteger?

Preâmbulo

Há 13 anos meu pai, Nilson Fidelis, me propôs um desafio: escrevermos livre e independentemente sobre temas aleatórios, definidos por ele, com a condição de que não víssemos o que o outro escrevia até que os dois tivessem terminado a redação sobre aquele tema. Foi uma experiência muito bacana e que contribuiu bastante para que hoje eu saiba lidar com as palavras. Há algum tempo ele me avisou que ainda haviam dois temas “esquecidos” por nós. Hoje, com 24 anos, escrevo sobre o último deles em um timing perfeito.

Quem vai me proteger?

Quando crianças, cada mudança é traumatizante. A transição do aconchego e segurança do lar para a creche sempre causa dias de choro e birra, mas passa. Depois, a entrada na 1ª série gera uma timidez danada: “Novos amigos, nova professora, novo tudo. Oh céus, o que vou fazer quando a hora do recreio chegar?!”. O início da aula de natação, do ensino médio e até da faculdade… na nossa juventude é sempre assim: nos agarramos naquilo que for minimamente familiar pois estamos apavorados com as mudanças.

Se abre vai!? Você ficou um tempinho a mais na cama dos pais, só dormia com o bichinho de pelúcia do Mickey ao seu lado, implorou para estudar em tal colégio porque seus amigos todos iam. E quando as coisas davam errado, você corria para papai e mamãe que lhe diziam “se acalma… essa menina não é tudo isso” ou “vão ter outros campeonatos para você ganhar”. Claro! Eles te amam e são sua “capa protetora” do mundo por um bom tempo.

Mas aí chega a fase adulta, em que todos nos livramos das muletas, medos e passamos a ser independentes e agir como tal. Correto? Rá… Quem dera!

O que se vê é uma quantidade enorme de pessoas que sempre têm, na ponta da língua, um motivo para os insucessos. Assim como na infância, quando não eram os “mais bonitos”, “mais inteligentes” ou “mais altos” da sala e portanto, não tinha problema se não conseguissem algo, quando adultos alegam “não terem nascido ricos”, “serem mulheres”, “não terem tempo”, “serem pobres ou negros”, que “os impostos são absurdos”.

Ok, a vida não é nada justa. Nada mesmo. Nada! Mas pra ser sincero, se alguém quiser achar, sempre haverá desculpas, verdadeiras muletas para embasar o comodismo. Pra ser mais sincero ainda, uso as palavras do Emicida: “Irmão, você não percebeu que você é o único representante do seu sonho na face da Terra? Se isso não fizer você correr, chapa, eu não sei o que vai.”.

Ser adulto é saber que o mundo não te deve nada. É assumir a condição, não responsabilizar outrém por ela e a partir daí, fazer de tudo para ser o que quiser. Recentemente a tenista Maria Sharapova foi pêga no exame anti-dopping por uso de uma substância que, segundo ela, utilizava há 10 anos como remédio para seus problemas no coração. Relevando-se o fato dela ter dito ou não a verdade, foi notável sua posição perante o mundo depois do acontecido. Mesmo tendo um staff formado por cerca de 10 médicos e fisioterapeutas que são responsáveis por checar esse tipo de informação, mesmo tendo sido pêga apenas 1 mês após a inclusão da substância na lista de dopping, a tenista russa assumiu toda a responsabilidade, pediu perdão aos fãs, ao esporte que pratica e ao menos uma oportunidade de ainda praticar o tênis antes de sua aposentadoria, dizendo: “No final do dia, o nome que está lá é o meu.”.

Por fim, ser adulto é fazer por você, pelos seus e por aquilo que acha certo, não por aquilo que outros dizem. Assumir responsabilidades também inclui assumir as decisões e as consequências por elas, mesmo que isso vá desapontar pessoas muito próximas. É o que os caras da auto-ajuda chamam de “protagonismo da própria vida”, mas eu prefiro chamar de ‘ser você mesmo’. Menos fru-fru, né?

Concluo citando Sinatra, na atemporal My Way: “For what is a man, what has he got; If not himself, then he has not; To say the things he truly feels; And not the words of one who kneels; The record shows; I took the blows; And did it my way.”.

Porque no final do dia é só você. Você e Deus.