Sean chegou bem próximo de Bruce e começou a falar:
__ Você se lembra de um aniversário que estava com sua vózinha, é sua lembrança mais remota. Você queria ser cientista. Por que pesquisador? Ele é uma espécie de criador, ele conhece os elementos e mistura-os para criar novos elementos sensacionais e você adora isso: “Me ensinem como usar a ferramenta, que tentarei criar algo novo e diferente/melhor nisso”. Você faz isso em tudo, mudar pra deixar do seu jeito “diferente”. Às vezes as pessoas gostam, às vezes não. Você testa as pessoas e se adapta pra agradá-las. Com pouquíssimas pessoas no mundo você pode ser você mesmo e ainda assim ser entendido. Você não acredita que as pessoas tenham que saber dos seus problemas, ou mesmo saber que você está em problemas, eles são apenas seus. E geralmente você sofre calado. E os resolve. Sempre.
__ Você sempre se sentiu sozinho. Você ia pra escola, mas à tarde ficava sozinho na casa do pai, muitas vezes. À noite fazia tarefas sozinho. Estudava sozinho. Ninguém precisava te mandar estudar ou te mandar fazer tarefa. Você apenas sabia que tinha de ser feito e fazia. Isso não era mais do que a sua obrigação. E você fazia bem feito. Você é o engraçado do grupo pra chamar atenção. Você consegue conversar com qualquer pessoa e cativá-la. Mas faz isso apenas quando quer. Muitas vezes você apenas ignora as pessoas, ou atua com um personagem mais simplório de você mesmo com elas.
__ Com poucas pessoas você é você mesmo. Mas você gosta de dar exemplos da sua “super-sinceridade”. E você exige sinceridade e honestidade das pessoas, por que? Você tem poucos amigos. Ou melhor, poucos bons amigos. Você é super fiel à quem é realmente próximo de você, mas não faz questão de mostrar isso. Você espera que as pessoas saibam. E acha qualquer outro tipo de “prova” pura bajulação. Você considera dar presentes em datas-padrão uma bobagem. Mas um presente surpresa em uma data realmente especial, pra você, é um ato lindo. Você nunca bajula. Você é sincero. E você acha isso um defeito seu. Também acha que o mundo mente e que as pessoas não deveriam ser assim. As pessoas enganam e pior, gostam de serem enganadas e você acha isso tão fútil. Você diz verdades fazendo graça. Você fala mentiras sério. Você nunca diz as verdades de forma séria. Nunca. Você não sabe falar sério? Sabe. Ao mesmo tempo você tem muitas dificuldades em ser sincero sobre algumas coisas. Você tem uma dificuldade enorme em dizer não e vive tentando agradar as pessoas. Você acha isso uma qualidade.
__ Você espanta as pessoas que gostam de você. As pessoas que você gosta se espantam de você. Você se acha melhor que a maioria das pessoas. Na verdade, não, você se acha capaz de fazer o que a maioria das pessoas fazem. Você não acredita em limites. Você odeia quem acredita em limites, FILHOS DA PUTA! Por que você os menospreza tanto? Limitados! Você ama os desconhecidos pelo que eles são, e os respeita como poucos. Você respeita as pessoas. Você entende que existem caminhadas difíceis e que cada pessoa tem um caminho à seguir, mas não acredita que esse caminho tem um teto. Tudo é possível! Tudo é possível! Tudo é possível! Esse é o mandato da sua vida. Seu pai saiu do nada, do pó, e ergueu uma família com meia dúzia de irmãos apenas com o próprio suor, vindo de um lugar sem nenhuma oportunidade. Sua obrigação como pessoa é dar o máximo de você pra ser o que quiser, mas dê o máximo! Você deve isso à todos a sua volta, você deve isso à sua mãe, ao seu pai e ao Senhor.
__ Você despreza quem faz igual aos outros, como você despreza isso! As pessoas que você mais admira são as diferentes, que tem seu jeito único, as que tem orgulho em ser como são e são super felizes com isso. Você não gosta dos super-heróis lindos e fortes. Você gosta dos controversos, você admira e entende o vilão. Você sempre foi o diferente? Entre os seus irmãos você era o diferente. Em casa, você não tinha irmãos, você sempre foi sozinho. Você não tinha com quem brincar. Você sempre quis fazer diferente. Você acha que merece ficar sozinho. Você raramente está realmente feliz com alguma coisa, alguma conquista, porque você sempre quer trabalhar mais, pois você não chegou no limite. Isso é bom, até certo ponto. Mas é ruim por outro lado, você acha que não merece a euforia. Você sempre foi inseguro, mas está melhorando bastante nisso. Você vai melhorar em tudo isso, você está se tornando um adulto fudido! Eu tenho orgulho do que você tem conquistado cara, é só você, Deus, seu pai e sua mãe cara. Mas isso não é muito bom. É bom você colocar mais pessoas na sua vida, cara. Permita-se. Você morre de medo cara… delas te fuderem. As pessoas não são fiéis, as pessoas não são confiáveis. Você se fecha pra elas, pra maioria delas. Você já sofreu bastante com pessoas e ri ironicamente disso. Mas isso não é bom, cara. Você já se “apaixonou” por muitas pessoas fodas, mas que não eram seus verdadeiros amigos. Você nunca quis ser o cara estilera padrão, afinal você menospreza o padrão. Você sempre quis ser estilera por você mesmo, pelo que você é, pelo que faz, pelo que pensa. E isso funcionou bem pra você até agora. Mas parece que tem um momento que você volta a virar criança, sei lá. Você está melhorando muito como pessoa.
__ “Eu sou bom, ei, eu estou aqui, olha pra mim. Será que alguém vai ter que sair pra eu entrar? Posso ser o próximo? Eu sei jogar melhor que eles”… lembra, no clube? Você pensava, mas nunca falava… às vezes resmungava. Mas treinava com o muro em casa. Sozinho. A chutar com a esquerda e a direita. Sobre desistir: você não desiste. “Venham até mim”, esse é um dos seus lemas. Você tem prazer em ficar no canto só para as pessoas te chamarem para perto delas. E geralmente elas chamam. E daí você surpreende elas, porque você é diferente. Mas isso não é bom, cara. Você acha que elas não te merecem, que são medíocres. Elas não são, cara. Ou são, sei lá. Mas ficar longe das pessoas não vai te trazer bem nenhum, você precisa delas. Não afaste elas, cara. Por favor, não faça isso. Não queira ficar sozinho denovo. Quando elas se afastarem, você vai sentir saudades. Você sempre sente. E depois fica se penalizando, lutando pra viver de forma mais difícil. Pra quê, cara? Se abra. Se abra para novas experiências. Se jogue cara. Você não tem nada a perder. Nada. A benção dos três que são os únicos a quem você deve algo, você já tem. Vá pra cima, chefe. O que você está esperando pra fazer isso, hoje? Sai do banco de reservas, para de ficar esperando alguém te chamar pra porra do campo. Grita! “Alguém tem que sair, é a minha vez caralho!”. Se acabar o jogo e todo mundo for embora, foda-se. Tá, você vai ficar sozinho denovo – debochou Sean –, mas foda-se. Sério, você é mais foda que 80% desses filhos da puta. Por que jogar com as regras deles? Por que, se você já faz suas regras desde sempre? Por que jogar com as regras deles? Por que jogar com as regras deles?
Bruce olhou profundamente nos olhos de Sean, abriu as asas e voou.