Rascunho do Tai

Sem energia.

Acordo. Os passarinhos cantam. Estico o braço. Alcanço o celular plugado no carregador – cem por cento. Checo a hora. Ainda há tempo. Fecho os olhos. O celular desperta. Tomo banho. Penso. Tomo banho. Lamento. Tomo banho. Agradeço. Parto – um novo dia.

Vou. Para onde? Escritório, firma, rua, loja, obra, empresa, trampo, estrada, luta. Apenas vou. Lá, não penso, faço. Ligo, volto, falo, vou, entrego, peço, devolvo, vendo, mostro, ergo, sigo e corro, corro, corro. Alcanço o celular guardado no bolso – setenta por cento. Checo a hora. Não há mais tempo.

Corro. Chego. Como – e como. Sento. Assisto. Converso? Pego o celular sobre a mesa de centro – cinquenta e cinco por cento. Olho a hora. Volto. Atrasado.

Faço mais daquilo que faço. Repito… repetidas vezes. Paro. Paramos. Bebo um gole de café. Mantenho o celular próximo – quarenta por cento. Checo a hora. Falamos mal dos políticos. Checo a hora. Viro a xícara de café. Checo a hora. Volto a fazer. E faço e checo a hora. Até que em certo ponto, passo apenas a checar a hora, esperando ir. Vou – ou volto? Não sei, mas corro.

Por fim, chego. Leio uma mensagem no celular – vinte por cento. Era a operadora. Assisto. Janto. O celular apita: “Por favor, conecte a um carregador” – cinco por cento. Plugo o aparelho no carregador junto à cama. Aproveito, descanso.

Acordo. Os passarinhos cantam. Estico o braço. Alcanço o celular plugado no carregador – cem por cento.